A crise actual deixou os portugueses num estado de tal calamidade que todos os valores, qualidades e defeitos do povo lusitano são postos em causa. Somos os piores a conduzir, temos o pior sistema educativo, somos os piores alunos a
matemática e já se fala de sermos, também, os piores alunos a português.
Porém, tal como o governo de Sócrates esqueceu a cultura do nosso país, também os portugueses deixaram de incluir no seu dicionário a palavra “qualidade”. No seu lugar entraram palavras como “defeito”, “escuridão”, “crise”, “descalabro”, “miséria”, “vergonha” e “desastre”. Será que em 10 milhões de habitantes não existe uma alma iluminada que não despreze unicamente o seu povo e pense no que ele tem de bom?
Quando um estudo demonstrou que a Letónia é o país mais infeliz, um olhar de desilusão e incredibilidade estampou-se na cara dos portugueses. Ocupamos, agora, o segundo lugar no pódio! Este espírito derrotista não leva a lado nenhum e, modéstia à parte, não somos assim tão maus!
O povo português é conhecido por ser extremamente acolhedor e hospitaleiro. Todos aqueles que decidem trabalhar, passar férias e conhecer o rectângulo da Europa são recebidos com sorrisos rasgados e coração aberto. Se algum estrangeiro está perdido, lá está o português para gpsiar o caminho. É de valorizar a enorme capacidade de desenrasque dos portugueses que, alguns apenas com a quarta um portuinglês. No final, expressões de estranheza e desentendimento estampam-se nos
rostos daqueles que não conhecem a nação das quinas. Surgem expressões como “no entiendo”, “non capisco”, “ne pas comprende” e “sorry, but I don't understand”. E, sem cessar, lá vai o português tentar repetir o que disse com um sotaque parecido àquele que ouve nos filmes e nas telenovelas. Não há alternativa. A nossa faceta poliglota de pouco adianta pois só nós temos essa qualidade natural. Ainda não foi encontrado um consenso relativamente às causas deste fenómeno, mas fala-se da complexidade da língua portuguesa conduzir a um grande desenvolvimento da compreensão e percepção da oralidade.
A única coisa que me é incompreensível é o facto de os cidadãos estrangeiros nunca entenderem o que os portugueses dizem. Para eles, não passam de grunhidos. Por vezes, tratam-se de palavras semelhantes entre as duas línguas em causa e, no final lá vem o “no entiendo”. A pronúncia e a fonética são de tal forma dominantes ,que os levam a desinteressarem-se por tentar compreender as restantes linguagens.
Insistência, tentativa, perseverança e vontade levam este povo a qualquer lado. O caminho não será por aqui?
Mariana Catarino
Crónica, TEJ Imprensa
Novembro de 2009
1 comentário:
Penso que a nossa principal questão passa ainda, e em demasia, pela carência de uma formação verdadeiramente construtiva. Trata-se de algo que nos permita responder aos desafios constantes do globo. Não nos conseguimos afirmar apenas com qualidades avulsas (gentes e paisagem), mas com a sua inserção num modelo de incentivo e de permanente reformulação. Daí advém a unicidade, logo a distinção.
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